Arquivo Carlos Lacerda

Arquivo Carlos Lacerda
Stanley Martins Frasão*
O presente ano marcará o 10º aniversário da assinatura do convênio entre a FUNDAMAR – FUNDAÇÃO 18 DE MARÇO e a Universidade de Brasília – UnB, para a organização do Arquivo Carlos Lacerda. A data deve ser celebrada por se tratar da viabilização de um dos arquivos mais ricos sobre a vida política e cultural do Brasil, abrangendo o período de 1930 a 1977.
Após a morte de Carlos Lacerda (23.5.1977), sua família doou à UnB, em 1979, a vasta documentação sobre ele. São inúmeros itens que durante 20 anos ficaram guardados em caixas e foram utilizados apenas por pesquisadores que sabiam de sua existência. Somente em 1999, a Universidade preocupada com o risco que estavam correndo tão importantes documentos para a história recente do país, procurou patrocínio para organizá-los. O apoio veio da Fundamar - Fundação 18 de Março, na forma de financiamento. O material emergiu a público e se transformou no Arquivo Carlos Lacerda, que fica na Divisão de Coleções especiais da Biblioteca de Brasília
O arquivo Carlos Lacerda foi dividido em "Vida Pessoal", "Produção Intelectual", "Empresário" e "Vida Política", essa última é evidentemente maior, em razão de sua atuação como Governador do Estado da Guanabara. O plano de trabalho proposto, apresentado e ratificado pela FUNDAMAR , teve como objetivo permitir o acesso rápido às informações relativas ao político, jornalista, escritor, contista, dentre outros. Trata-se de um conjunto de documentos com um grande potencial informativo sobre aspectos importantes da história contemporânea do Brasil. O arquivo é composto por 26,54 metros lineares de documentos textuais, isto corresponde a cerca de 159 mil folhas de documentos, 4.426 ampliações fotográficas, 266 slides, 86 discos de vinil e 2 fitas de áudio. Nele estão registradas as atividades intelectuais, políticas e empresariais de Carlos Frederico Werneck Lacerda (1914-1977). O material contém, ainda, registros de sua vida pessoal, a relação com amigos, familiares, políticos, artistas, escritores e admiradores.
Destaca-se, especialmente, os documentos relacionados à vida política brasileira, principalmente nas décadas de 1950 e 1960, mesmo porque é impossível falar de Lacerda e do seu Arquivo, sem falar em política. Político foi ele em tempo integral por toda a sua vida. Sobre o escritor continua pesando o patrulhamento ideológico destinado ao político. Unanimidade existe apenas ao se considerar a sua oratória. "Orador de pompas asiáticas" como enfatizou Romero Neto no prefácio do excelente "Sangue e Paixão" com o qual Lacerda inaugurou na língua portuguesa o romance-verdade; ou o "maior tribuno que passou pela Câmara dos Deputados" na opinião de Paulo Pinheiro Chagas ("Esse velho vento da Aventura", página 330). Do "Quilombo de Manuel Congo" - escrito em 1935 e reeditado em 1998 - ao "A Casa de Meu Avô", Carlos Lacerda escreveu mais de 30 livros, sendo que o último elevado ao patamar de obra prima por Carlos Drummond de Andrade: "Ainda que você não tivesse outros títulos - e têm muitos - bastaria este, o de autor da "A Casa de Meu Avô" para garantir-lhe esse lugar que importa mais do que os lugares convencionalmente tidos como importantes" (Carta de 26/12/76). Dos publicados em vida, raros livros ficaram na primeira edição. A Fundamar, novamente em convênio com a UnB organizou a publicação de quatro obras do autor: "Rosas e Pedras de Meu Caminho", Brasília 2.001 Ed. Universidade de Brasília, "21 Contos Inéditos de Carlos Lacerda", e "3 Peças Inéditas de Carlos Lacerda” (O rio, Amapá e Uma bailarina solta no mundo), ambos da Ed. Universidade de Brasília e Imprensa Oficial do Estado/SP, 2003 e "Minhas Cartas e as dos Outros" Ed. Universidade de Brasília, 2005.
É ainda cedo para se falar de Carlos Lacerda com a devida imparcialidade. Homem que despertava fascínio entre os amigos e ódio entre os adversários, pode ser, mesmo que precariamente decifrado pelo ex-presidente Jânio Quadros: "Era uma personalidade paradoxal. Tinha voos condoreiros e, às vezes, mergulhava, abandonando as alturas. Corajoso, culto, erudito mesmo, jornalista completo e desassombrado, tribuno terrível, administrador eficiente – o Rio de Janeiro que o diga -, político altivo e apaixonado. Sua vida é página de gestos grandiosos e contradições consigo mesmo. No balanço todos somos devedores de seus ideais, sem embargo dos excessos da palavra mágica e do comportamento imprevisível. “Deixemos a história julgá-lo".
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(Colaboração do estagiário Mateus Victória Gontijo)
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*Advogado, sócio do escritório Homero Costa Advogados

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Esta matéria foi colocada no ar originalmente em 26 de março de 2009.
Fonte: http://www.migalhas.com.br/

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